A ética nossa de cada dia: combinados e regras na Educação Infantil.
A ética nossa de cada dia: combinados e regras na Educação Infantil.
A ética nossa de cada dia: combinados e regras na Educação Infantil.
Profa. Dra. Cecília Iacoponi Hashimoto
O ambiente de uma sala de aula de Educação Infantil deve ser agradável e prazeroso, de maneira que promova relações estimuladoras de desenvolvimento da criança com o professor, com os estudos, com outras crianças e com as regras.
Quando dizemos regras, pretendemos focar em uma abordagem que transcenda a moral instituída, as questões religiosas, os traços de caráter como honestidade, integridade, generosidade, o certo e o errado, bem como as palavras “mágicas” como, por favor, com licença, desculpe-me e muito obrigada.
Sabemos que, para viver em sociedade, precisamos nos adequar a uma série de normas e valores, os quais, indiscutivelmente, nos tornam cidadãos inseridos e pertencentes a um grupo social e moral. Porém, o que nos chama atenção é quando, desde pequenas, as crianças obedecem a regras e normas, cegamente, sem ao menos ter a oportunidade de refletir ou se dar conta do porquê e para quê, sem experimentar a possibilidade de também organizar suas regras, mediante situações do cotidiano.
Algumas vezes, observando crianças, notamos que as mesmas fazem a “lição de casa” das “boas maneiras”: por favor, com licença, desculpe-me, muito obrigada, porém, cinco minutos depois já estão em outra situação que contrapõe àquela que nos tinha sido apresentada como “ideal” de educação.
O que acontece, então?
Por que ensinamos regras, moral, valores, e as crianças declinam na primeira oportunidade em que não estão sob vigília?
Vamos considerar, neste artigo, a condução de regras e combinados organizados pela instituição escolar.
Os pais recebem, no início do ano, além das informações burocráticas como pagamentos, datas, horários, dias de avaliações, reuniões e festas, um informativo escolar contendo as normas da escola. Professores e funcionários também tomam ciência das regras da instituição. E alunos, quando chegam à escola, são orientados pelos professores e pela direção escolar, mesmo que bem pequenos, do que pode e não pode na escola.
As normas são importantes e necessárias para o bom andamento e desenvolvimento dos trabalhos e da organização escolar. Todavia, merece consideração a premissa de que se nós adultos apresentamos de uma maneira mais rígida, regras pré-estabelecidas para os alunos, sem a participação dos mesmos, podemos considerar que o não cumprimento das mesmas pode ocorrer, também, pela falta de compreensão, especialmente tratando-se dos menores entre quatro e seis anos.
Não significa dizer que tudo deva passar pelo crivo da aprovação/reflexão dos alunos, pois além de utópico, não funcionaria: a regra geral é necessária. Mas a regra, por si só, não deve ser usada como escudo ou camisa de força.
Um bom exemplo é a experiência de uma escola de educação infantil com alunos de quatro, cinco e seis anos, na qual presto consultoria educacional.
Fez-se uma pesquisa sobre o que os alunos mais gostavam e o que não gostavam na escola.
As respostas superaram as expectativas! Dentre várias, uma gerou modificação na conduta: algumas vezes, por motivos desconhecidos dos alunos, a regra geral de uso do parque não ocorria conforme os combinados!
Esta norma geral é apresentada para a criança desde o primeiro dia, com o horário de parque para cada turma. As crianças ficavam muito chateadas quando chegava o horário do parque e por algum motivo, faziam outra atividade. Todos esperam ansiosamente por este momento.
Nas três turmas, a queixa foi pontual.
Em suas respostas, disseram que se há horário para o parque, deve ser cumprido, e não substituído por outra atividade. “Parque é parque! Tem que ter todo dia, só na chuva que não!” (fala das crianças)
Esta escuta da escola sobre as indignações das crianças quanto a regra violada, gerou mudança, causou mais felicidade para as crianças, e, em contrapartida, mais cuidado por parte da escola em organizar suas regras e cumpri-las. Afinal, a regra deve ser uma via de mão dupla, tanto vale para alunos quanto para escola!
.Desmerecer que o aluno perceba mudanças que incorrem em sua rotina significa desconsiderar que, nesta fase do desenvolvimento, as crianças são “realistas morais”, ou seja, o que lhes é apresentando como verdade, é o que vale. É a lei do olho- por - olho e dente-por-dente. Em outras palavras, o que está posto deve ser mantido!
Por este motivo, cuidados redobrados são necessários quando trabalhamos tanto as regras instituídas quanto os combinados de sala de aula, pois, ao menor deslize ou remanejamento, sem consulta ou explicação prévia com os alunos, haverá cobrança.
Evidente é que nem sempre está claro para a criança este processo de reflexão, mas vale à pena oferecer oportunidades para expressão livre de opiniões, sentimentos e emoções sobre questões gerais da escola. Tratamos aqui do respeito ao educando em todas as instâncias.
Mais do que apresentar regras para as crianças, o importante é perceber a elaboração mental que cada criança faz, como são internalizadas, que impacto existe em suas vidas, que significado e importância possuem.
Para além da disciplina e da punição, os combinados ou regras, devem centrar-se em estratégias de negociação, de apoio à construção de convicções acerca do relacionamento interpessoal. Devem, por fim, levar à autonomia e autoconhecimento no desenvolvimento infantil, e por toda a vida, tornando-os cidadãos éticos, conscientes de suas ações/reações para com o mundo que os cerca.
https://www.linkedin.com/pulse/%C3%A9tica-nossa-de-cada-dia-combinados-e-regras-na-hashimoto
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